Everson dos Santos Cerdeira
O vocábulo burocracia, mormente é utilizado, a partir do senso comum, em seu sentido deturpado da sua formulação e intencionalidade inicial. A saber: instituição pública onde o papelório existente e as infindáveis rotinas administrativas resultam em ineficiência, morosidade, procedimento administrativo lento. Para o leigo, burocracia é exatamente sinônimo de emperramento, das disfunções dos trâmites administrativos.
Segundo Max Weber, burocracia quer dizer exatamente o inverso de sua rotulação pejorativa. Burocracia é sinônimo de organização, eficiência. Trata-se de uma organização administrada por normas procedimentais, previamente estabelecidas e escritas (uma espécie de regimento interno, estatuto ou congêneres), onde estão dispostas todas as chamadas rotinas administrativas.
No cenário das atividades empresariais (comércio, serviços etc.) estão também previstos as formas de como fazer, como vender, como executar dada tarefa, ou seja, tudo aquilo que é preciso saber para o funcionamento do empreendimento está estipulado em documentos, esses podem se chamar rotinas técnicas, manuais etc.
Weber preceitua a burocracia a partir da disciplina e obediência às normas estabelecidas. São características pertinentes à burocracia dentro da concepção weberiana: o caráter legal das normas e regulamentos; o caráter formal das comunicações; o caráter racional e divisão do trabalho; a observância da impessoalidade nas relações; hierarquia de autoridade; rotinas e procedimentos padronizados; competência técnica e meritocracia; especialização da administração; profissionalização dos participantes, bem como completa previsibilidade do funcionamento.
Dentro do cientificismo estruturado de Max Weber as ações humanas devem obedecer a um rígido e disciplinado principio hierárquico: nada deve “sair” daquilo que está previamente determinado. Um dos pontos mais duramente criticados pelos opositores de Weber na chamada “burocracia weberiana”, analisando-a a partir da Teoria Organizacional teve como fator determinante a rigidez que Weber tentou “impregnar” nas ações humanas.
As instituições militares se encaixam com perfeição como exemplos da burocracia pensada a partir da concepção weberiana. No ambiente militar a disciplina é fundamental e, em conseqüência a hierarquia é respeitada, as tarefas obedecem a uma rotina estabelecida previamente. A especificidade é uma característica necessária para o exercício de determinada função. A cobrança dos superiores e o hábito da observância da disciplina às regras institucionais subjazem a ideologia destas instituições.
O comportamento habitualmente praticado nas corporações militares serve para reduzir ao mínimo os atritos interpessoais, devido ao contato restritivo (oficialmente pautado na figura do superior hierárquico).
Uma observação assaz pertinente a ser feita em relação à Weber é que dentro do pragmatismo da lógica da burocracia weberiana é no que diz respeito as organização informais. A informalidade não foi pensada por Weber. Melhor dizendo ela (a informalidade) é, dentro de sua ótica uma disfunção, uma anomalia. Para ele seria uma espécie de variação dentro da racionalidade dos comportamentos humanos.
Não se pode negar a importância das fundamentações weberianas nem tampouco a sua grande utilidade para o desempenho das atividades laborais tanto na esfera pública, atividades empresariais privadas e nas instituições militares.
Na atualidade, ainda que a lógica da burocracia de Weber seja observada, muitas instituições (inclusive as militares) estão buscando se tornarem um pouco mais “flexíveis”. Lidar com seres humanos implica em conviver com comportamentos diversificados, caracteres multifacetados, idiossincrasias diversas. Na lida com pessoas implica em atuar no social, nos meandros intimistas de cada pessoa e, isto, naturalmente, é muito mais complexo. Não pode ser pré-estabelecido dentro de conceitos genéricos.
REFERÊNCIAS MOTTA, Fernando C. Prestes; BRESSER-PEREIRA, Luiz Carlos. Introdução à Organização Burocrática. 2. ed. rev. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2004.
Fonte: Fórum Brasileiro de Segurança Pública
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